Vela RC Brasil Express

Jornal Eletrônico da Vela RC Brasileira

Nasce um velejador…

Em 1974, após dois anos de haver fixado residência em Brasília, assisti, no espelho d’agua existente na Praça dos Três Poderes, as evoluções de um barco à vela rádio controlado, que ía de um lado para o outro, dava voltas, aproava em direção a margem, para alegria da criançada e, também dos adultos que apreciavam o espetáculo.
Era um dos pioneiros do nautimodelismo candango, o companheiro Waldemar Packneess, que manobrava o iate miniatura.
Na ocasião, fiquei encantado com a “coisa”. Como pode um barco à vela evidentemente acionado por vento, navegar de um lado para o outro, se o vento sopra numa só direção?
Perguntas ao piloto. Respostas sobre o mistério, uma rápida pilotada, porém, logo segui meu caminho, ficando o barco lá no lago a evoluir.
Anos se passaram.
Procurando perder uns “quilinhos”, pelos idos de 1981, pedalava eu a minha bicicleta pela pista do Parque da Cidade, quando deparei, à minha frente, com algumas “coisas” brancas que caminhavam meio encobertas por uma elevação no gramado.
A curiosidade foi desperta. Apertei um pouco mais as pedaladas e, após a curva, cheguei às margens do lago.
Lá estavam eles. Cerca de seis barcos evoluiam de um lado para o outro, pensei. O que na realidade estavam realizando, era uma regata.
Parei e fiquei ali olhando, e notando o interesse dos “comandantes” conduzindo seus iates.
Depois de algum tempo de competição, dei continuidade ao meu execício, todavia, na realidade, sem saber, pelo menos naquele momento, que tinha sido mordido, e que havia contraido a febre.
No sábado seguinte voltei ao parque, não tanto pelo execício de bicicleta, mas na realidade para ver os barquinhos, prática que, a partir daí, foi observada a cada fim de semana.
Na época, para efeito de registro, participavam das regatas os jovens Eduardo, Erike, João Candido e Cristiane e os adultos Alvanir Carvalho, Manoel Carlos Correia, Antonio Cesário Gomes Pereira, Carlos de Oliveira Leite, Carlos Caetano de Oliveira Leite, Neio Lúcio, Waldemar Packneess, Eweton Goes, William Meireles, Paulo Marenga, e o meu fraterno amigo e compadre Ricardo Mora, padrinho que sou de sua filha, a querida Adriana.
Cada vez mais interessado, iniciei, para desespero dos “navegantes”, a inevitável fase das perguntas, parte integrante do nosso processo, e que precede a minha iniciação final.
Na ocasião, a diculdade consistia em se obter os barcos. Os de madeira, haviam sido fabricados na maioria por seus proprietários. Os de fibra de vidro começavam a chegar de São Paulo, mas em pequeno número, sendo a disponibilidade, em termos, da ordem zero.
E rádio para comandar o barco? “Tem que ser obtido em São Paulo ou então, comprado em Manaus, onde o preço é mais em conta, em razão das facilidades oferecidas pela Zona Franca”, era a orientação.
Parti para compra do rádio. Futaba Mod. FP-2L que, em fevereiro de 1981, pasmem, custou Cr$ 9.500,00.
E o barco? O problema continuava. Quem pode me fornecer a planta? “É muito difícil”, diziam. “Uma vez que os barcos foram construidos segundo a inspiração de cada fabricante, não há plantas disponíveis”, acrescentavam para o meu desespero.
Afinal, após muito “andar” de um lado para o outro, mantive, pela primeira vez, contato com o companheiro Manoel Carlos Correia.
“Planta de barco ? Eu tenho uma. Olha é aquele barco alí. É, daquele mesmo, o candango”, na oportunidade, sendo manobrado pelo Ewerton Goes. ” foi construido por mim. Passa aqui sábado. Eu trago as plantas para você”.
No sábado seguinte, respondi PRESENTE !!!!!
Reverentemente, perguntei. O senhor se lembrou da planta do barco? “Ah me esqueci”. Dancei, pensei eu. Porém, uma luz surgiu no fim do tunel. “Você está de carro?” Estou. “Bem nesse caso, espera até o final da regata e siga-me até a minha casa que lá lhe passarei as plantas”. Dito e feito !!!!
E assim, no início daquela noite de sábado, o Correia assumiu a posição de meu “guru maior” no nautimodelismo, pois seria injusto deixar de me reportar aos demais “gurus” iniciais – digo iniciais, porque mais adiante outros “gurus” tão importantes surgiriam – em destaque, na primeira fase, como Cesário, que também me orientou a respeito das diversas fases construtivas, considerando a sua prática no mister, na ocasião já consagrado contrutor de barcos de madeira, com o pioneiro de seu estaleiro TRECO-TRECO e o famoso CARINHOSO do qual, inclusive, mais adiante, foi feita uma forma e produzidos cascos em fibra de vidro, barcos esses montados por ele Cesário, hoje espalhados por todo o Brasil, haja vista existirem exemplares em São Paulo, Rio de Janeiro, Uberlândia, Porto Alegre, Salvador e Brasília, naturalmente.
De posse da planta, mãos a obra. “Como vai a fabricação do barco ? Já está pronto? Quando será o batismo?” Vai indo, respondia eu. Não tenho muito tempo. Em breve estará pronto.
A hora estava chegando. Quanto as velas? E o mastro? “Bem, velas temos umas aqui para vender”. E o mastro? Mais uma vez o Correia entra em campo. Construiu meu primeiro mastro.
Dia 21 de abril de 1981. Data memorável. Tiradentes. Aniversário de Brasília. Lançamento oficial do CALIPSO, meu Classe “M”.
Realizava-se no dia uma regata festiva. Bandeiras e plateia nervosa. Minha mulher presente, incentivando-me. Montei o barco seguindo orientações de momento dos iniciados na “nobre arte”, e também com base nas minhas “observações”.
Barcos n’água !! Dois minutos para a largada. Um minuto, 50 sgundos, 40 segundos, 30, 20, 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1, largada.
A flotilha partiu célebre em direção a primeira bóia em contra-vento. E o CALIPSO ? Ficou. Não largou, pelo menos junto com os demais.
“Faz isso. Faz aquilo. Solta a vela. Caça a vela. Vira o leme. Agora vai.” E eu aos trancos e barrancos, ou melhor, aos bordos e rebordos, fui seguindos o companheiros que longe iam, vela enfunadas em graciosas “asa de pombo”.
Ao final da prova, como não podia deixar de ser, último lugar. Último lugar, não. D.N.S.. Não terminei a regata no tempo estipulado.
Porém, sentia-me gratificado !!!
O importante é que eu, a partir daquele dia era proprietário de um barco da classe “M”, havia eu mesmo fabricado, fazia parte de um grupo estusiasta, e tinha ingressado no Clube Candango de Nautimodelismo.
Enfim, era um velejador rc juramentado!!!!

Por Fernando Bernardo Cardoso

HOMENAGEM PÓSTUMA– Ao amigo, iatista e editor Fernando Bernardo Cardoso, que por 16 anos junto a família nautimodelista, incentivou e levou suas notícias da modalidade através do informativo mensal do CCN a todo o Brasil. Em sua homenagem transcrevemos abaixo o texto escrito por êle, que era o seu perfil. Falecido em outubro de 1997.

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Publicado às 10/12/2011 por em Vela rc - Notícias anos 90 e marcado , , , , .